Antiquários
– Aprendizado Contínuo dos Fundadores do Brique
Por
Rogerio Becker - Antiquário
De mãe para filho
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Foto: www.briquedaredencao.com.br |
A minha mãe entrou aqui por 79, eu
nasci em 81 e sempre a acompanhava. Na época era do outro lado da rua, onde tem
a escola de balé ali ficava nossa banca. A partir dos seis ou sete anos, ela colocava
uma mesa com gibis antigos - era mais uma brincadeira pra eu ficar ali me
distraindo - mas eu ficava ali realmente vendendo os gibis. Depois eu trabalhei
com ela mais seriamente, pra ganhar algum troco e ajudar até os 13, 14 anos.
Mais tarde passei a trabalhar de restaurador na loja e aprendi a restaurar
antiguidades. Primeiro aprendi a restaurar móveis, depois cristais, porcelana e
a mexer com prata, metal e ouro.
Tive toda essa formação lá dentro. Com
o tempo ela me ensinou a comprar mercadorias e a reconhecer, na verdade eu
passei a vida inteira trabalhando com isso e após o falecimento dela - veio a
falecer em 2002 - eu herdei o box e segui o trabalho porque eu já era auxiliar.
De lá pra cá já faz 11 anos que eu estou no Brique como titular e segui esse
trabalho todo. Antiquário é uma profissão que não existe faculdade, o cara
aprende com o tempo. Se eu for contar, desde os meus 10 anos, eu vou fazer 32,
já faz 22 anos que eu trabalho com isso e é um aprendizado contínuo. Não tem como o cara dominar tudo porque tem
uma gama bem ampla, se eu trabalhar 50 anos mais sempre vou estar aprendendo.
A gente não tem loja, trabalhamos com
eventos, domingo a gente faz o Brique e sábado a gente faz o Museu do Trem, em
São Leopoldo. É um evento nobre e uma ou duas semanas por mês eu faço o Mercado
Público. Praticamente todas essas feiras que se formaram no Rio Grande do Sul vieram
depois do Brique, alguém saiu daqui e fez. Tem vários antiquários em Porto Alegre que
trabalharam muitos anos no Brique e depois que ganharam bastante dinheiro
saíram ou abriram lojas. Aquela feira no Cidade Baixa também se criou a partir
daqui. A feira de rua dos Antiquários foi criada não para ser contínua.
O Surgimento da Feira
No início a feira surgiu para
comemorar o aniversário de Porto Alegre. Tinha um pessoal que simpatizava com
as feiras de Montevideo e da Argentina e então eles até convidaram pessoas lá
do Uruguai para formar isto aqui e alguns estão aqui até hoje. Existia uma
feirinha na Praça da Alfândega que o pessoal botava selos e moedas e esse
pessoal foi convidado a vir para cá. Primeiro era só naquele primeiro canteiro,
depois teve uma crescida, tinha demanda, na sequência encolheu porque na época
da ditadura, aquele canteiro ali da Santana - o Colégio Militar, não permitia e
o artesanato era na outra quadra, depois que o Arte na Praça ocupou aquilo ali.
Depois que acabou a ditadura foram se ocupando os espaços.
Na época em que não havia o antiquário
aqui, o Pujol e o Vilela, que colecionavam antiguidades, foram convocados por
essa gestão (prefeitura) para formar isto aqui. Eu acho que a ideia inicial
partiu mesmo do poder público, o Vilela era prefeito e o Pujol, secretário de
alguma coisa, não lembro se era da SMIC. Em princípio se discutia qual seria o
melhor local. Falou-se que poderia ser na Travessa da Paz nos dois lados da
rua, na época se chegou a conclusão que teria que ter mais gente para
participar, do contrário não iria crescer, e se decidiu fazer no túnel verde, o
túnel era bem fechado e se pensou que teria lugar para se expandir.
A feira sempre aconteceu aos domingos,
desde 1978. O nome Brique vem do francês comércio de antiguidades,
colecionáveis e usados. Logo no início se pensou que seria uma feira só de
antiguidades, mas depois se pensou que é difícil conseguir muitas antiguidades
- o pessoal geralmente tem algumas peças antigas e caras e outras velhas e
usadas. Mais tarde, com a feira de artesanato e de artes plásticas, o nome
Brique se tornou popular. Até mesmo durante a semana as pessoas vem correr no
parque da redenção e dizem: vou correr no Brique. No início o Brique era a
feira que funcionava da Santana à João Pessoa, mas, hoje, o Brique é tudo que
vai da João Pessoa à Av. Osvaldo Aranha.
Depoimento gravado para o Projeto Brique da Redenção: Resistência e Diversidade Cultural em 26 de maio de 2013
Por
Marco Antonio Ribeiro Barbosa, o Paulista - Artesão
Quando a feira iniciou nos idos de 82,
nós vínhamos para cá às 8h da manhã e às 11h já poderíamos ir embora, porque às
11h30, quando terminava a missa, não restava mais ninguém, era um deserto. Era
como se tivesse dado um temporal e não ficava mais ninguém, não passava carro
nem público, não tinha nada. Tudo mudou no dia em que saímos da cerca e viemos
para o meio da rua. Foi quando a SMAM, num acesso de genialidade ou de repressão,
nos correu do parque. Foi assim a nossa grande alavanca para sair do lado da
cerca e vir para o meio da rua. Aconteceu que o público que passava de carro
começou a prestar atenção em nós. Então eles passavam de carro e nós estávamos
expondo aqui e aí já começaram a parar, chamávamos a atenção e só foi crescendo,
crescendo, até se tornar no que é hoje o Brique da Redenção.
Não houve formula mágica, não tivemos
receita de sucesso, foi apenas o ato de estarmos aqui insistindo desde o começo.
No início acho que ninguém vendia, nem para as passagens (risos). Entre tantos
clientes que passaram por aqui, existem várias famílias que estou há três
gerações vendendo - vendi para os pais, filhos e agora estou vendendo para os
netos. Um dos grandes clientes meus aqui foi o Caio Fernando Abreu. Sempre que
ele estava em Porto Alegre vinha numa dessas igrejas com sua mãe, uma senhora
bem velhinha que vinha assim bem arqueadinha. Aí ele parava, conversava com
aquele jeito calmo, e era um colírio suas palavras. A presença dele faz muita falta aqui no Brique.
Eu estou aqui no Brique desde 1982 com grandes chances de ficar até 2082
(risos).
Outro assunto que eu gostaria de falar
é que nós temos que prestar mais atenção aos familiares dos pacientes
internados no Hospital de Clínicas e no HPS. Nos momentos de aperto, de amargura,
eles vem aqui passear no Brique para levar uma lembrança aos parentes que
ficaram lá no interior, também como um meio de relaxar e sair daquela tensão
que eles estão, daquele sofrimento. Sempre tem um parente ali com problema de
câncer, uma operação grave, então o Brique, para muita gente que está ali no
Hospital de Clínicas, serve como uma válvula de escape, um meio de tentar
esquecer aquele problema que ele está passando, nem que seja por uns momentos.
Para esse tipo de cliente nós temos que dar uma atenção especial, conversar para
que ele desabafe. Ser um pouco assim como um analista, um psicólogo. Isso é muito importante e tu acaba criando
vínculo com essas pessoas. Nossa principal meta aqui não é só vender, a venda é
importante, mas o vínculo acho que é fundamental.
Depoimento gravado para o Projeto Brique da Redenção: Resistência e Diversidade Cultural em 12 de maio de 2013
Conexão Buenos Aires-Porto AlegrePor Ariel Ramirez - Artesão
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Foto: AP |
Entrei
na feira em 1992. É assim, a primeira vez que tomei conhecimento do Brique foi
em 1986. Estava viajando do Rio de Janeiro para Buenos Aires e fizemos uma
escala em Porto Alegre. Na época fazia e vendia bijuterias e aí, a gente
acostumado a fazer as feiras de Buenos Aires, viemos expor à tarde no Brique. Só
que chegamos tipo às 14h30 da tarde e a feira ia até as 14h, ou seja, não tinha
ninguém, nem público havia (risos).
Ficamos
só a ver navios, e claro, não vendemos nada. Esse foi o primeiro contato com o Brique.
Uns 5 ou 6 meses depois voltei a Porto Alegre e vim passear no Brique de manhã.
Percorri toda a feira e achei uma peça muito engraçada. Era uma peça de
cerâmica que tinha um queijo, um salaminho e uns camundongos encima do queijo,
ou saindo pelos furos do queijo, outros comendo, achei muito divertido e
comprei. Depois de quase 5 ou 6 anos quando, eu entrei no Brique, e esse
artesão que confeccionou a peça, o Raul Winter (hoje nas artes plásticas),
passou a ser meu vizinho e amigo. Comentando com ele sobre aquela peça, lembrou
que eu tinha comprado alguns anos atrás. É incrível, ele se lembrou. Entrei na feira em 1992 e de lá pra cá aconteceram
muitas histórias, algumas engraçadas, outras nem tanto.
Agora
vou falar outra coisa, pra mim, o Brique da Redenção é muito importante, porque
com ele sustento minha família. Eu consegui crescer não só como artesão, também
economicamente. Eu acho que no Brasil é o melhor ponto de venda de artesanato
que existe, não existe outro igual, seja inverno ou verão, com chuva, sem
chuva. Tenho bons colegas, outros nem tanto, mas são colegas (risos). Eu estou
bem entrosado com todo mundo, é uma feira que eu gosto e acho que enquanto eu
não morrer, vou ser artesão e depender deste ponto de venda.
Depoimento gravado para o Projeto Brique da Redenção: Resistência e Diversidade Cultural em 05 de maio de 2013
Por Adma Corá – Artesã
Foto: AP |
Trabalho com cerâmica há 35 anos.
Comecei a trabalhar com baixa temperatura, trabalhando mais artisticamente. Mas
meu sonho sempre foi trabalhar com utilitários porque não trabalhava com alta
temperatura. Então fiz aula com o Rui Gassen, uns três meses. Então a gente
conversando, nós somos amigos, e ele começou a me incentivar a trabalhar com
alta temperatura. E pra mim foi um boom, comecei a testar. Eu dizia porá ela “me
passa as dicas!” – “não, vai pesquisar” ele dizia.
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Depoimento gravado para o Projeto Brique da Redenção: Resistência e Diversidade Cultural em 05 de maio de 2013
Por Itamar Severo
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Sidnei e Itamar Severo - Foto: AP |
Eu já estava vendendo fora e não tinha
essa dificuldade que se tem hoje para entrar na feira. Mas esse tempo todo eu
não me arrependo de ter feito a feira. Entrei aqui e participei da Artefim com
o César Coni. A gente batalhou para calçar aqui. Na época era areião. Os primeiros
oito anos aqui foi em cima do areião, depois a gente calçou, batalhamos
bastante vendendo caldo de cana cafezinho e melhorou muito, inclusive eu tenho
uma foto com um amigo meu já falecido, o Sidnei com quem comecei junto na Rua
da Praia. Nessa época também conheci o Panela (Paulo Viana, fundador) e o Jesus,
que ainda está entre nós - no Brique.
Penso que vou trabalhar aqui até o dia
que eu puder, até que Deus permitir. Criei meus filhos aqui (Israel e Patrícia).
Consegui dar educação pra eles com o meu trabalho. É isso.
Um detalhe muito importante que eu
esqueci de citar: eu nunca troquei de lugar. Hoje eu estou no mesmo lugar em
função da vizinhança que a gente tem no Brique. O Javier, no Box 44, a Maria, no
box 42, o Rolando, a Silvia, a Raquel e outros que já saíram. A união dos
artesãos é o que mantém a força do Brique.
Depoimento gravado para o Projeto Brique da Redenção: Resistência e Diversidade Cultural em 05 de maio de 2013
DOMINGO
DE REFLEXÕES
Por Carmen Lopez - Artesã
São as
seis. A tarde se vai em suave declínio.
Tantas
vezes, vendo o dia morrer, eu me emociono. Lágrimas me assomam, dos meus olhos,
contidas.
As
árvores do parque, estáticas, permanecem, vencendo o tempo.
E
eu estou ali, no meio delas, querendo aprender mais, amar muito, amar até
vencer. Morrer amando! Mas não! Amar não é morrer, e sim, dar um passo para a
eternidade.
Domingo
ensolarado, no Parque da Redenção.
O
Brique como se costuma dizer.
Relíquia
do tempo, legado de pioneiros, figuras populares. Cartão Postal da cidade de
Porto Alegre. Desde o meu estande de expositora observo.
Vendo
passar tanta gente! É um povo, um êxodo. Eles vêm todos juntos, mas
individualmente separados. Vem de todos os lugares. De perto, de longe, de
outras cidades, de outros países, de outros continentes. São muitos, são todos.
Olho para eles e me vejo em Israel, na Espanha ou na Argentina. Mas estou no
Brasil, Brasil imenso. De doce idioma, albergando tantas línguas, tantas raças,
costumes e maneiras.
Hoje
é domingo, de sol resplandecente! A gente se diverte como o homem do gato, todo
mundo ri. É o momento de maior descontração do Brique.
Logo
as pessoas se dirigem para apreciar os estandes de artesanato, arte e
antiguidades. Elas são numerosas ao longo dos canteiros.
Representam
um espaço cultural e também comercial, espaço de arte. Um lugar excêntrico,
para escapar da rotina de todos os dias.
Um
lugar para turista que chegou de passagem e se vai com tanta pressa que não
espera até a segunda-feira. Mas encontra para sua sorte, algo tão bom para o
seu lazer, algo que fala da cultura, da educação, das raízes de um povo. Do
cotidiano, da expressão viva. Do folclore, magnífica característica de arte
popular. Estampa e selo marcado o cartão postal de Porto Alegre.
Uma
cidade chamada jardim.
Mas
continuando minhas reflexões, penso na nossa longa caminhada.
Sinto
que todos juntos ou separados, caminhamos. Vamos para a frente, para algum
lugar, uma meta que queremos descobrir, encontrar.
E
os meus pensamentos levam-me a pensar que não existem heróis. Só existem
vencedores de uma luta sem tréguas e nem a derrota tem tempo de existir, porque
essa luta é longa, sacrificada e contínua.
Isto,
vejo expresso na imagem às vezes silenciosa de alguns seres que vejo neste
parque grande, verde e espaçoso.
Aqui,
tudo acontece, no Parque da Redenção.
O
Brique, cita cabal de personagens, figuras divergentes, de uma composição
sócio-cultural tão variada, que pode-se dizer que é, uma enciclopédia viva de
livros, de autores, de artistas e escritores de tantas origens e idiomas que só
pode comparar-se a uma enorme biblioteca aberta à curiosidade humana. Ao
chamado do conhecimento profundo.
A
sintonia dos ritmos clássicos e populares da música, que como torrente, se
espalha pelos “senderos” do parque
Aos
aromas, cores e sabores.
À
vivência das realizações.
À
opulência da riqueza e o poder.
Aos
mais variados e diversos objetivos.
Às
metas de trabalho e organização do indivíduo.
Às
tristezas, à angústia ou à decepção.
À
imoralidade, à impotência.
À
miséria que se escapa de alguns rostos de expressão cansada, como a dos índios
brasileiros, que olham para nós com indiferença, e permanecem ausentes e
silenciosos como se falassem para dentro se perguntando o por quê? Das suas
existências sacrificadas. Das suas vidas ignoradas. Dos seus meninos famintos.
Eles
têm um espaço no Brique para vender seu artesanato, que pouco vendem e nunca
alcança o benefício nem para o sustento.
Mas
nem tudo é tristeza. Também há alegria.
Muita
alegria!
Estão
os artistas de rua, os que fazem teatro, música e paródias.
Eles
são alegres, nos divertem por algumas horas.
Declamam,
cantam. Nos mostram sua poesia.
Nos
fazem sentir que a vida é bela sempre, e que vale muito vivê-la plenamente.
Que
existem as crianças, os pássaros, as flores.
Que
o seu sorriso é o reflexo de sua alma.
Que
devemos deixar aflorar a criança ingênua que levamos dentro, para conseguir
alcançar o estado de pureza e humildade que nos eleva a uma esfera superior.
Mas
sigamos caminhando pelo Brique. Hoje é outro dia. A manhã convida. O céu azul
sem nuvens.
Tudo
é verde neste parque.
Os
tons vão do mais claro ao mais escuro, mesclando-se um pouco ao vermelho da
terra e ao marrom dos troncos.
Nesse
momento está chegando um grupo de pessoas, vestidos como na Índia. São só
Crishnas. Pertencem a uma congregação da filosofia Crishna. Cantam, correm e
riem com uma euforia inexplicável. Mais distante, em outro espaço, o grupo do
Sikuris, redobra com seus charangos, quenas e tambores. "O Condor
Passa" e com ele nos transportamos à Cordilheira dos Andes. O coração se
estremece, ultrapassando as montanhas, e junto ao condor majestoso, nosso espírito
se eleva.
Mas
há mais, muito mais para ver.
O
Brique é uma sucessão de épocas, transportadas pelo tempo.
A
capoeira, é pioneira de todas as épocas, como os teatros das faculdades que se
apresentam aqui.
Mas
atual e estabelecido quase permanente, é o homem do gato.
De
humor acentuado, ele reúne uma quantidade de público bastante variado. Se
divertem executivos, os profissionais de diversas áreas, as pessoas mais
simples, as crianças e os anciãos.
Todo
mundo ri e participa do seu teatro ao ar livre.
E
vem mais reflexões, às vezes profundas e nostálgicas.
A
sociedade dos poetas. Penso: Não podemos formar, lá com os grandes célebres que
já morreram, mas sim com os que existem e permanecem ignorados.
Eles
são uma espécie rara, uma partícula da estranha raça dos espiritualistas.
Nunca
decaem, crescem!
São
torrente, manancial inesgotável de onde emerge o ouro humano. De onde emergem
os milagres. O milagre que converte as matemáticas em poesia. A poesia que faz
girar o universo e todos os planetas.
Momentos
de poesia. No Brique. Por que não?
Texto enviado para o Projeto Brique da Redenção: Resistência e Diversidade Cultural em 15 de maio de 2013
O Brique oficializado, calçado e o protagonismo da Artefim (1)
Por Celso Roberto Schroder – Fundador da Feira
Da
Informalidade para a Lei
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DECRETO Nº 8.193, DE 20 DE MARÇO DE 1983. |
A
partir daí, com a aprovação da Câmara dos Vereadores, a coisa já criava uma
outra conotação. Conseguimos isso, inclusive o regulamento que está em vigor
até hoje foi feito dentro da Artefim (3). Muitas reuniões, muitas discussões, todo
mundo era chamado, todo mundo podia opinar, bem democrático. Um dos grandes
méritos da Artefim que ninguém pode falar, porque todos foram da Artefim, todo
mundo participou. Até para os adversários as portas estavam sempre abertas. Chamávamos assembleias, foi muito democrático. Foi uma época que nós tínhamos
90% da feira como associados.
O Caminho
das Pedras
Outra
grande luta - e essa comissão que está aí, esse pessoal, não reconhece - foi a
do calçamento. Foi uma luta que há muito tempo nós vínhamos reivindicando. Passava
de prefeito pra prefeito e a coisa era empurrada com a barriga. Isso aqui era
chão batido, toda a feira. Então, domingo que nem hoje, isso aqui levantava um
pó! Danificava o material, quando chovia era um barro e mal dava pra circular.
Então era aquela luta. Eu fui presidente por duas gestões e já na primeira
gestão eu comecei a encaminhar essa questão do calçamento. Como eu via que na
prefeitura não tinha grandes possibilidades – a prefeitura nunca tinha recurso, daí, com um colega, nós tínhamos saído de uma reunião na SMIC, tratando do
calçamento, novamente insistiram que não ia dar, nós saímos de lá, e eu disse
assim: “Mário, quem sabe nós vamos na Secretaria do Trabalho do Governo do
Estado?”. Porque eles estavam com uns projetos incentivando o artesão, “vamos,
vamos dar uma passada lá.” Chegando lá era começo de um governo do PMDB, e eles
estavam com um projeto, dentro da Secretaria do Trabalho: Programa de
Iniciativas Comunitárias. Aí nós falamos com o cara lá, assessor do secretário,
e ele disse “dá pra encaixar vocês nisso aqui. Porque dentro de um certo
contexto pertence à comunidade do Bom Fim. Vocês como feira fazem parte da
comunidade...”. Dessa forma conseguimos, conseguimos a aprovação.
Eles
conseguiram recursos financeiros para o pagamento da mão de obra, mas o
material, os paralelepípedos nós conseguimos também através do Governo do
Estado, com a prefeitura também, porque eles tinham retirado os bondes da
cidade, e tinha muito paralelepípedo lá no Cais do Porto. E eles disseram “vocês
se servem lá, o que precisar de paralelepípedo pode pegar”. Aí o que restou pra
nós foi comprar o basalto. Aí entrou o governo municipal, o arquiteto da SMAM,
veio aqui, fez o estudo das árvores e tal, qual era a melhor pedra pra botar e
tal, fora o paralelepípedo que conseguimos de graça, e seria o basalto esse aí,
que absorve bem a água, não afetando muito a vida das árvores. Então foi tudo
feito direito, ele fez o projeto, e a Artefim, por sua vez, começou a campanha
pelo “calçamento já”. Isso tudo era para o primeiro canteiro, só, nós íamos
fazer o calçamento só do primeiro canteiro. A campanha foi aumentando e nós
conseguimos até a metade deste canteiro aqui. Pensamos, os dois primeiros
canteiros vão ter calçamento e pra lá vamos ver se se consegue outro projeto,
lá pros antiquários. Daí faltava recursos pro resto da feira e no governo do
Olívio na prefeitura, que incrementou o calçamento do restante. Quem puxou a
campanha toda foi a Artefim, nós fizemos camisetas pra vender, bonezinho, um
monte de coisa. Foi uma luta, quando vieram as primeiras pedras de basalto eu
subi no caminhão pra descarregar.
(1)
Artefim – Associação dos Artesãos do Bom Fim.
(2) Berenice Aurora, junto de seu
marido, Paulo Filber, foi fundadora da feira de
artesanato em 1982 ao lado da feira de antiguidades, em funcionamento desde
1978.
(3) Criação do regulamento da Feira de Artesanato do Bom Fim
em 1983.
Depoimento gravado para o Projeto Brique da Redenção: Resistência e Diversidade Cultural em 28 de abril de 2013
Joca - O Artesão Metaleiro!
Chegando
no Brique, Encontrando e Reencontrando a Boemia
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Eu comecei a frequentar a Redenção em
1984. Acompanhando toda boemia, o movimento da música de Porto Alegre. Daí me
distanciei um pouco, em função do trabalho, não vinha muito pro bairro aqui. Em
1991 cheguei aqui pra expor no Brique, num ano como convidado e no seguinte já
de titular.
No final da feira, que é o único dia
que a gente pode dar uma saída, fazer alguma coisa, pois o trabalho envolve muito
tempo, eu sempre dava uma saída pelos bares aqui do bairro.
Nesse momento acabei me reencontrando com todo esse movimento cultural em
função da minha atividade no Brique.
Nessa época percebi que tinha muita
gente que frequentava a boemia, os bares por aí, que eram colegas aqui do
Brique. É uma coisa que se associa, essa coisa do artesão, que além de ter um
trabalho que é dele, uma grana que é dele, de acordo com a qualidade própria, essa
coisa de ser mais liberal e de frequentar esses lugares. Está associado, porque
geralmente quem é artesão trabalha com isso porque gosta, porque é independente
e gosta desses movimentos.
Então voltei a frequentar esses
espaços. Mas claro, nesse momento comecei a ver isso por outro ângulo, com o
lance mais profissional aqui do Brique. Eu tenho muita responsabilidade com meu
trabalho, a boemia nunca interferiu, em primeiro lugar sempre o Brique, depois,
meu happy hour, é a coisa toda ali.
Fase
do associativismo

O orgulho que eu tenho da feira aqui, nesse
tempo que eu participei da Comissão: eu tenho colegas hoje que estão dentro do
Brique, que eram pessoas que estavam lá do outro lado. Eram pessoas que botavam
suas coisas no chão e não tinham noção do processo. Então a gente chegava lá,
com toda a educação, até pra saber. Alguns eram malandros e se faziam de bobos,
outros não sabiam mesmo e tinham um material legal. Chegávamos ali e conversávamos,
e os caras não sabiam que tinha que ter uma carteira de artesão, como é que se fazia,
e muitos foram pelo caminho do processo certo e estão aí, são nossos colegas
hoje. Outros saíram, outros também entraram, já participaram de comissões
também, outros ainda encontraram uma veia para outro lado, que não o
artesanato.
Trabalho
e Lazer
Eu me acomodei nesse assunto aqui no
Brique porque envolvia muito do meu tempo. Não quis mais participar de
Comissão, não quis mais participar de cooperativa, eu fazia parte da Cooparigs.
Não dá por que te toma tempo. Se não for pra te dedicares 100% do tempo não
adianta. Tens que estar lá para representar o pessoal. Eu cansei, dentro da
cooperativa mesmo, ter que ir duas, três vezes por semana em reuniões, ajudar a
resolver isso ou aquilo, e para mim não adiantou nada. Me desliguei disso tudo
em questão de tempo.
De terça à sábado estou envolvido com a feira, com a produção. E claro, a gente tem uma produção limitada, vendas limitadas, temos só o Brique para a comercializar, mas a gente consegue fazer uma historinha legal. E assim foi, como essa participação estava tomando muito do meu tempo, acabou diminuindo o tempo de lazer. Mas em primeiro lugar a profissão. Não sei se eu ainda estaria na profissão se eu não tivesse este ponto, este lugar. É um lugar que te garante, não vais perder. Muitos acharam que estavam bem, com bastante cliente fixo, que não precisariam do Brique e acabaram tendo que retornar aqui pro Brique depois porque a tua janela é aqui. Embora se tenha divulgação na internet, sindicato e outras coisas, tu tens que estar aqui pro pessoal te ver. Se não estás aqui em pouco tempo tu acabas sumindo, acaba desaparecendo. E a possibilidade que tens, de fazer contato para vários lugares do mundo, que são clientes que compram do cara aqui e levam. Tem também artistas que compram aqui e acabam ajudando a divulgar.
De terça à sábado estou envolvido com a feira, com a produção. E claro, a gente tem uma produção limitada, vendas limitadas, temos só o Brique para a comercializar, mas a gente consegue fazer uma historinha legal. E assim foi, como essa participação estava tomando muito do meu tempo, acabou diminuindo o tempo de lazer. Mas em primeiro lugar a profissão. Não sei se eu ainda estaria na profissão se eu não tivesse este ponto, este lugar. É um lugar que te garante, não vais perder. Muitos acharam que estavam bem, com bastante cliente fixo, que não precisariam do Brique e acabaram tendo que retornar aqui pro Brique depois porque a tua janela é aqui. Embora se tenha divulgação na internet, sindicato e outras coisas, tu tens que estar aqui pro pessoal te ver. Se não estás aqui em pouco tempo tu acabas sumindo, acaba desaparecendo. E a possibilidade que tens, de fazer contato para vários lugares do mundo, que são clientes que compram do cara aqui e levam. Tem também artistas que compram aqui e acabam ajudando a divulgar.
Resgatando
a Boemia e o Som Pesado
E voltando pro papo da boemia, já foi
melhor, morreu muita coisa. Morreu o movimento do Bom Fim. Transferiram tudo
pro Cidade Baixa e hoje não tem, fica meio nostálgico da época do cara mesmo.
Hoje é outra geração, que não tem o mesmo charme que tinha da criação de todo o
movimento. Porque Porto Alegre é uma história à parte. Existe uma cultura só
daqui, musicalmente, independente do resto do Brasil. Muitos saíram daqui, desbravaram
o mundo inteiro. Mas tem ainda essa gurizada, bandas como o Krisium, que se
criaram nos bares aqui conosco e hoje é uma referência no mundo. Uma gurizada
que se criou aqui no Bom Fim, com todas as dificuldades.
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Depoimento gravado para o Projeto Brique da Redenção: Resistência e Diversidade Cultural em 28 de abril de 2013
Os Filhos do Brique
Relato da artesã Nara Regina
Meu nome é Nara. Eu comecei a fazer
artesanato em 79 e não havia locais pra vender e eu fui até Salvador. Quando eu
voltei de Salvador, a minha irmã me disse:
- Bah Nara, vai começar uma feira no
Bom Fim, por que tu não vais e te inscreve?
Aí eu digo, olha, uma boa ideia hein!
Bom Fim, achei legal. Fui até a casa da Berenice e do Paulão, eram um casal, para me
inscrever. Daí éramos 15 artesãos, no domingo.
Lembro que tinha uma mesa, aquelas de
sarrafinho, e a gente começou encostados na cancha de futebol e a bola caia na
nossa mesa. Ficamos por ali alguns domingos e aí começou aquela função “porque
esse lado é da SMAM e esse lado é da SMIC” e terminou que passamos pro lado da
SMIC. Foi aí que inciamos a divulgação da
Feira de Artesanato do Bom Fim. Nessa época já existiam os antiquários, eles
tem três anos a mais aqui, no mesmo lugar que eles estão hoje, há 35 anos.
Então, começamos a fazer a feira.
Viemos para o lado da SMIC e eu fiquei, acho que uns dois anos, como titular,
em um outro box. Eu fazia macramê, não vendia muito bem, meu filho era pequeno,
e aí deu a louca, achei que com um emprego de carteira assinada iria ganhar
mais. Fui trabalhar com carteira assinada e larguei a feira, perdi meu box. Comecei
a trabalhar, meu filho já ficou um pouco mais independente, não mamava mais e
eu “tá, vou voltar pra feira de novo”.
Voltei vendendo bala, vendendo pão
para os meus colegas e acabei conhecendo o Álvaro, que é o dono desse box que
eu tô hoje. Eu perguntei pro ele, "ô Álvaro, posso expor atrás do teu box?”. Eu
faço cortinas e ele fazia lustres e abajures. Ainda havia aqueles bancos de
cimento aqui na avenida e era tudo areião. Aí o Álvaro disse “não, se tu expor
atrás, não tem problema”. E eu fiquei dois anos expondo atrás do material dele.
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Foto: www.briquedaredencao.com.br |
Mais tarde o Álvaro passou em um
concurso e eu pensei “e agora?” – eu era auxiliar com direito à venda,
modalidade que havia. Pensei “vou perder, vou perder, vou perder” e a Berenice
disse “não, tu não vais perder, vamos fazer um abaixo assinado, tu és
fundadora...” e fizemos o abaixo assinado. Eu sei que no fim nem precisou disso.
Como eu tinha dois anos de auxiliar com direito à venda, o box passou
automático pra mim. E eu fiquei titular, é onde estou até hoje. Meu filho tem 29
anos quase 30. Se formou na Ulbra, com a minha renda aqui do domingo.
Fiz macramê, não deu, depois,
cortinas, muitos anos fiquei fazendo só cortinas, e depois eu fui para o
vestuário feminino, é o que faço até hoje, que é tricô, crochê, tecido com
pintura. Hoje o que posso dizer é o seguinte, pra mim sair da Feira de Artesanato
do Bom Fim – porque ainda valorizo esse nome – só se for uma coisa muito
melhor. Porque eu criei o meu filho aqui.
Depoimento gravado para o Projeto Brique da Redenção: Resistência e Diversidade Cultural em 21 de abril de 2013
Por Ana Maranghello
Bom, hoje é Domingo e Pietro, meu filho, já fez a tradicional pergunta:
- Nós vamos ao parque?
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Foto:AP |
Para mim cada novo Domingo de Brique,
é como se fosse a primeira minha primeira vez por lá. Meus olhos sempre brilham
quando vejo toda a cor desse lugar, e me sinto misturada nessas cores, nesses
sabores e olores tão peculiares, tão meus, tão nossos, e o encantamento é
sempre o de primeira vez.

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Foto:AP |
Logo após essa tarde de domingo, soube de
seu acidente. Meus olhos guardarão o seu caminhar no Brique da Redenção, meus
olhos não esquecerão seu passos naquela tarde linda, onde ele caminhava sossegado,
de alma leve pelo Brique da Redenção. Foi a última vez que o vi caminhar. Mas
que bom, foi tão belo, tão colorido, me trouxe tanta paz.
Bom hoje é Domingo preciso me apressar,
meu filho Pietro quer ir para a Redenção, depois do almoço nada melhor que uma cocada
de maracujá. Vamos para o Brique!
Crônica enviada para o Projeto Brique da Redenção: Resistência e Diversidade Cultural por Ana Maranghello - Bacharel em Letras UFRGS - em 14 de abril de 2013
Brique Harmônico
O
Músico Gaspo Harmônica vai pra Rua
“Acho que só quem já morou em outro
lugar, que não tem isso, sabe o quão importante é uma cidade oferecer coisas
desse tipo. Lugares onde as pessoas possam se encontrar sem ter que pagar para
entrar”
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Foto: Catia Assink/ AP |
Aqui,
em Porto Alegre, o Brique da Redenção é uma coisa única. Em outras cidades que
morei não havia essa opção - alternativa de lazer aos domingos no mesmo lugar,
no centro da cidade, onde qualquer um consegue chegar, botar sua cadeira na
grama, enfim, um centro de convivência, uma coisa muito bacana, que eu passei a
frequentar com certa assiduidade.
Foto: Catia Assink/ AP |
Eu passava no Brique e sempre via os caras tocar. Eles
não tinham gaitista nessa formação. O Marcio Petracco sempre me chamava pra dar
uma canja, às vezes eu estava passando, com a namorada na época, que até ficava
meio brava, “pô o cara sempre some, viemos aqui passear e ele fica ali meia
hora tocando...”. Pouco a pouco comecei a ir justamente para tocar. O Pessoal
começou a me convidar de maneira mais oficial e durante quase dois anos eu
participei dos shows deles como convidado especial, todos os domingos de sol, ali
no Brique.
Lá pelo final de 2012, em novembro, por motivos pessoais, eles pararam de tocar no Brique da Redenção (O Conjunto Bluegrass atualmente está retomando suas atividades). E eu senti muita falta dessa coisa de tocar na rua, porque é uma sensação diferente. Eu diria que é uma arte mais direta e mais verdadeira. No sentido de que quando tu estás num palco, tocando - já toquei em grandes casas de show, enfim, nem sempre fui um músico de rua, costumava me apresentar em bares, teatros, ainda me apresento, em casas de shows - quando tu vais tocar numa casa de show, todo mundo já sabe que tu és a atração da noite. Tem um palco armado, cartazes, saiu teu nome no jornal, às vezes, no rádio.
Quando tocas na rua não tem nada disso. Na rua tu
és um cara tocando. Não tem nada que diga para as pessoas que tu és um artista,
a não ser a tua própria arte. Por isso, considero uma coisa muito mais
verdadeira o que acontece na rua. Quem gosta, para, escuta, compra o disco, te
dá uma grana, demonstra-se realmente interessado, exclusivamente por causa da
tua música. Não tem nada mais que faça a pessoa parar, outro sentido, além da
tua música. Não tem uma mesa para pedir uma bebida ou outros atrativos. Então,
quando alguém interrompe o passeio para te escutar é uma coisa de verdade que
está acontecendo. Ao mesmo tempo tu não
estás pedindo nada, quer dizer, tu dás a oportunidade à pessoa de fazer uma
colaboração; vendes teu disco, mas tu não estas cobrando nada de ninguém para
te assistir.
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Foto: Catia Assink/ AP |
Sendo assim, senti muita falta disso tudo, então em
novembro de 2012, resolvi apresentar meu próprio trabalho, tocando violão, gaita
de boca, cantando minhas músicas e vendendo meus discos no Brique da Redenção.
Logo tomei coragem e fui pra Rua da Praia também. Agora me apresento na Rua da
Praia e no Brique, mas o Brique é aquele espaço muito mais família, mais
voltado para o lazer. É muito legal porque tem muita criança e muitos idosos. E
as crianças são uma alegria completa, elas ficam dançando na frente, são muito
espontâneas e é muito bacana isso.
Claro que não é tudo uma maravilha. O Brique da
Redenção é um espaço teoricamente democrático mas às vezes gera certos conflitos.
Todo mundo quer usar aquele espaço. Alguns para lazer, outros para trabalhar,
como é o meu caso, os feirantes também. Isso às vezes gera conflitos pelos
pontos. Tem coisas que poderiam ser mais organizadas num ponto de vista
turístico e econômico, falta isso. O
Brique da Redenção, na verdade, independe da prefeitura. A prefeitura não é a
responsável pelo Brique da Redenção, ela fornece o espaço, que é público, para
as pessoas ocuparem em forma de associação. Mas acredito que falta aí algum
acerto final para as coisas funcionarem direitinho. Principalmente no que se
refere à arte, à música, problemas que envolvem equipamento de som. Isso é um
pouco confuso, a maneira como funcionam as coisas no parque, acho que poderia
ser de forma mais harmônica.
Fica aqui minha dica para que as pessoas tentem
conversar, se unir, com o intuito de deixar o Brique um local cada vez mais
agradável para quem frequenta. É uma coisa que poucas cidades tem. Uma coisa
desse tipo, uma reunião tão grande de artesãos, de artistas de rua, de músicos,
de teatro, de pintura, enfim, diversas artes num único espaço, muito bem
localizado, num parque maravilhoso. Tem que ser muito valorizado na cidade.
Acho que só quem já morou em outro lugar, que não tem isso, sabe o quão
importante é uma cidade oferecer coisas desse tipo. Lugares onde as pessoas
possam se encontrar sem ter que pagar para entrar, sem pagar para permanecer.
Isso é de extrema importância, não só pelo aspecto do lazer, mas para a
sociedade: as pessoas poderem se agrupar, se reunir, trocar ideias, observar os
outros, acho que é muito importante. O Brique da Redenção é um patrimônio da
cidade, tem que ser preservado e muito estimado por todos.
Depoimento gravado para o Projeto Brique da Redenção: Resistência e Diversidade Cultural em 13 de abril de 2013
Por Paulo Rodriguez
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Paulo Rodriguez - Arquivo Pessoal |
Artesão Rui Gassen - AP |
Há 21 anos sou um admirador do Brique da Redenção .
Ia escrever frequentador, mas
não sou tão
assíduo . É incrível
como os domingos
têm-me reservado compromissos
que , estes
sim , não
deviam ser frequentes. Mas
que fazer , senão ir aonde não quero
tanto e adiar
o passeio na José Bonifácio?
A última vez em que lá estive, nem
lembro. Talvez o Rui Gassen ainda expusesse por
ali suas
canecas . Lembram dele? Faz um tempinho.
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E, antes da volta ,
outro presente :
o Rui nos levou a conhecer
a Puig de la Balma. Segundo ele ,
“Puig” é “montanha baixa ”
e “Balma”, uma “reentrância na rocha ”, algo como uma pequena
caverna , muito
usada na época da guerra
civil espanhola como
esconderijo . Ainda
assim nos
sentimos em casa .
Naquela quinta , com
ares do melhor
domingo dos velhos
tempos .
Crônica enviada para o Projeto Brique da Redenção: Resistência e Diversidade Cultural pelo escritor Paulo Rodriguez em 10 de abril de 2013
Sobre Amor, Arte e Café!
A história do Artista
Plástico Marcelo Monteiro
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Marcelo Monteiro e Vanessa Berg
Foto: Samantha Berg
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Numa tarde de inverno, eu sentado
no meio fio aqui na Avenida do Brique da Redenção. A gente costuma, numa época
do ano, colocar as cadeiras mais próximas do meio fio, pra pegar mais sombra,
ou às vezes mais sol, quando faz muito frio. Então a gente fica afastado da
banca, olhando, como de longe as pessoas observando o nosso trabalho. Numa
tarde de início de maio, eu estava sentado ali, olhando meu trabalho de longe,
aí parou uma garota, com óculos grandes e bonitos e uma mancha azul nos cabelos.
Ela ficou parada com fones de ouvido olhando meu trabalho.
Estava de longe percebendo ela, que
ficou, eu acho, uns 5 minutos observando meu trabalho. Até pensei que ela fosse
uma emo, porque aqui, meu público,
pelo menos naquela época, era muito da galera punk e emo, eu fazia muita caveirinha, gravuras mais hard, o que chamava
muita atenção desse público. E aí fiquei na minha, vestindo minha toca e um
cavanhaque enorme. Fiquei bem na minha até que ela começou a me procurar, ela estava
buscando o dono da obra.
Nesse momento me aproximei e
começamos a trocar uma ideia, ela tirou os fones de ouvido, eu tirei os meus. Eu
também estava ouvindo o meu som. Começamos a trocar uma ideia e ela falou pra
mim que trabalhava com moda, que tinha curtido minhas gravuras, que estava até
pensando em inseri-las em alguma coleção. Me contou dos projetos e tal, e nisso
se passou uma hora. Uma hora conversando na frente do trabalho aqui. Contou-me
de seus planos, dos seus projetos com seres abissais, e eu também curto muito
esse lance de seres abissais. Daí num determinado momento ela tirou os óculos e
os olhos dela brilharam, brilharam demais, era um verde esmeralda muito
brilhante. Eu me apaixonei naquele momento.
Acabou a conversa, ela saiu fora,
naquela época eu trabalhava de gerente num café aqui na República, o Café do
8/2. Tinha muitas vezes que sair no domingo correndo pra abrir o café porque
era um dia de muito movimento lá. E aí tá, expliquei pra ela, que eu tinha esse
outro trabalho. Convidei ela pra tomar um café uma hora, e ela foi embora.
Na sequência chega a minha mãe,
que costumava passar nos domingos pra me ver, falar comigo, e aí eu comento com
ela: bah conheci uma mulher sensacional, linda e eu acho que me apaixonei.
Nesse mesmo momento, ela volta. Essa mulher volta, e me faz um convite pra sair
naquela mesma noite, que tinha uma festa com lounge, jazz eletrônico e...daí eu lembrei ela que não podia, trabalharia
e deveria abrir o café. Ela disse “tá, então beleza...”. Foi-se de novo, me
deixou o telefone, disse pra ligar e eu disse “tá, beleza, tranquilo”. Daí
ficou aquilo, minha mãe olhou, também achou bacana, bonita, enfim, aprovou. Sai
daqui, guardei minhas coisas, fui trampar no café. Tô lá, no meio da muvuca, um
monte de gente, eu servindo café, aí ela entra com uma amiga. Disse que
desistiu de ir na festinha do jazz e resolveu ir lá tomar um café comigo pra me
ver de novo. E aí cara, eu tô casado com essa mulher vai fazer cinco anos
agora, a gente têm um filho de três anos e é o amor da minha vida, conheci
aqui, no Brique.
Depoimento gravado para o Projeto Brique da Redenção: Resistência e Diversidade Cultural em 7 de abril de 2013
Depoimento gravado para o Projeto Brique da Redenção: Resistência e Diversidade Cultural em 7 de abril de 2013
Marcelo, que lindo! E pintou o quarto do filho de vocês com peixinhos e aquário. abração queridos
ResponderExcluirMuito bonita as histórias. O pessoal está de parabéns!
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